* Por Luciane Danylczuk Prendin
É inegável que o ano de 2020 trouxe grandes desafios e diferentes aprendizados a todos! O distanciamento social imposto pela pandemia da covid-19 trouxe consigo, não só ações de saúde pública, mas muitas incertezas, angústias, restrições, medidas econômicas, desemprego, a tristeza da perda de entes queridos, enfim, desafios inimagináveis para todos.
Porém trouxe também muitas reflexões e grandes aprendizagens, como a dimensão e a produtividade inesperada pelas empresas no home office; o desenvolvimento da autonomia dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem, ao desenvolverem ainda mais a habilidade de concentração assistindo às aulas on-line e ao quererem ser desafiados a novos conhecimentos.
Alteraram-se também as relações pessoais e familiares, permitindo maior proximidade, uma vez que todos precisaram dividir o mesmo espaço para trabalhar, estudar, se divertir e compartilhar conhecimentos, trocar experiências e novas aprendizagens. Permitiu que as pessoas aprendessem a dar valor ao mínimo e não mais a coisas fúteis. Mostrou que não é preciso estar em um ambiente com equipamentos de última geração para que se consiga praticar exercícios com regularidade, por exemplo; que empatia é interesse ativo e faz toda a diferença, principalmente nesse momento em que exercitar o altruísmo e se preocupar com o bem de todos é fundamental e faz a diferença.
A TECNOLOGIA E A VIABILIDADE DA EDUCAÇÃO NA PANDEMIA DE COVID-19
Na educação, com o fechamento das escolas para conter o avanço da pandemia, não foi nada diferente!
Os 47,9 milhões de estudantes da Educação Básica no Brasil, dados esses apresentados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no último Censo Escolar de 2019, seus professores e seus familiares enfrentaram desafios reais, porém imprevisíveis. Eles se reinventaram, buscaram novas formas de manter seus propósitos e de se ajustar, rapidamente, às novas formas de ensinar e aprender.
Este é um ano que certamente ficará marcado na história. Ano em que muitos sonhos ficaram suspensos. Mas um ano que marcou a evolução de aulas não presenciais, mostrando que não existem barreiras para o conhecimento. Que proporcionou oportunidades de desenvolver metodologias que colocam o estudante como protagonista e até de reaproximar as famílias dos processos educacionais dos estudantes. Em que muitos professores se descobriram ao fazerem uso pedagógico das tecnologias digitais de interação e comunicação em suas práticas pedagógicas. Enfim, um ano que deixará marcado que a educação e a tecnologia transformam gerações, pois as ferramentas tecnológicas servem para fomentar uma transformação digital, estimulam a investigação, a colaboração e a produção de conhecimentos, para engajar os estudantes, motivá-los a querer aprender cada vez mais, a serem autônomos.
Quais desafios devem ser enfrentados quando as escolas reabrirem suas portas a professores e estudantes para as aulas presenciais? Como será esse retorno? Quais são os anseios, medos, preocupações que afligem pais, responsáveis, no momento em que vivemos o auge de uma pandemia, ao pensar em retomar o normal? O que está sendo previsto/programado pelos órgãos/entidades reguladores da educação em todo o país?
PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO PARA UMA EDUCAÇÃO IGUALITÁRIA
Diante de tantas perguntas e do cenário de crescimento de casos de coronavírus, em algumas regiões, nem sempre há respostas certas na hora certa.
Muitos planos de ação estão sendo propostos. Órgãos como o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Nacional de Educação (CNE), juntamente com as entidades federais responsáveis pela saúde pública, têm alinhado diretrizes e ações que estabelecem orientações a serem adotadas pelos sistemas de ensino, instituições e redes escolares, públicas e privadas, para o retorno às aulas presenciais.
Embora ainda não haja nenhuma definição, data para a retomada das aulas, esse assunto divide opiniões. Há setores que defendem o retorno de forma urgente, enquanto outros, assim como alguns especialistas, principalmente os profissionais da saúde, são contra ou mesmo apresentam dúvidas sobre quando isso deva acontecer. A circunstância prevê cautela para não se dar um passo à frente e, depois, precisar retroceder.
O quadro epidemiológico é determinante para a tomada de qualquer decisão. Os aspectos relacionados à saúde são prioritários na homologação dos planos de contingência escolar.
Para isso, o Ministério da Educação (MEC) lançou, no início do mês de outubro/2020, o Guia de Implementação de Protocolos de Retorno das Atividades Presenciais nas Escolas de Educação Básica, que reúne normas técnicas de segurança em saúde e recomendações de ações sociais e pedagógicas a serem observadas pelos integrantes da comunidade escolar para um retorno seguro.
PANDEMIA VAI PROPORCIONAR NOVOS FORMATOS DO QUE CONHECEMOS COMO ESCOLA
Além de detalhar medidas de higiene a serem adotadas, como desinfecção e ventilação dos ambientes escolares; medidas de distanciamento entre os estudantes, em sala de aula; o uso de equipamentos de proteção individual e de proteção coletiva; o Guia apresenta um agrupamento de cores que classifica cada uma das fases da transmissão do vírus, com o retorno presencial, estabelecendo que:
- azul: quando não há nenhum caso na região onde a escola está localizada;
- verde: quando há casos esporádicos;
- amarelo: quando há transmissão local, mas restrita a grupos específicos, os chamados clusters;
- vermelho: quando há transmissão comunitária com grande número de casos.
Embora apresente as ações, o documento determina que o cronograma de retomada presencial nas escolas deve ser exclusivo de estados e municípios e estabelece que estes sigam as recomendações dos órgãos da saúde da sua localidade. Destaca que, após a divulgação, cabe às secretarias municipais e estaduais de educação colocar em prática, junto às respectivas redes de ensino, as medidas sugeridas neste Guia, fazendo a checagem da aplicação dos itens indicados.
O documento ressalta ainda que o Ministério da Educação apoiará as escolas na preparação da retomada, destinando recursos financeiros por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) Emergencial.
Já o Conselho Nacional de Educação (CNE), autarquia vinculada ao MEC, no Parecer CNE/CP n.º 15/2020, enumera algumas situações que podem ser acarretadas devido à longa falta das atividades presenciais, como:
- a dificuldade para reposição de forma presencial da integralidade das aulas suspensas ao final do período de emergência, com o comprometimento ainda do calendário escolar de 2021 e, eventualmente, também de 2022;
- os retrocessos do processo educacional e da aprendizagem aos estudantes submetidos a longo período sem atividades educacionais regulares, tendo em vista a indefinição do tempo de isolamento;
- os danos estruturais e sociais para estudantes e famílias de baixa renda, como stress familiar e aumento da violência doméstica para as famílias, de modo geral;
- o abandono e o aumento da evasão escolar.
TECNOLOGIA E PERSONALIZAÇÃO PARA GARANTIR EQUIDADE NA EDUCAÇÃO
Segundo esse mesmo órgão, “é importante considerar as fragilidades e desigualdades estruturais da sociedade brasileira que agravam o cenário decorrente da pandemia em nosso país, em particular na educação, se observarmos as diferenças de proficiência, alfabetização e taxa líquida de matrícula relacionados a fatores socioeconômicos e étnico-raciais. Também, como parte desta desigualdade estrutural, cabe registrar as diferenças existentes em relação às condições de acesso ao mundo digital por parte dos estudantes e de suas famílias. Além disso, é relevante observar as consequências socioeconômicas que resultarão dos impactos da covid-19 na economia como, por exemplo, aumento da taxa de desemprego e redução da renda familiar. Todos estes aspectos demandam um olhar cuidadoso para as propostas de garantia dos direitos e objetivos de aprendizagem neste momento a fim de minimizar os impactos da pandemia na educação.”
Além disso, o CNE apresenta alguns questionamentos quanto a essas situações e aponta alguns desafios a serem enfrentados pelas instituições ou redes de ensino de educação básica quanto à forma como o calendário escolar deverá ser reorganizado. O Conselho questiona, por exemplo, como:
- garantir padrões básicos de qualidade para evitar o crescimento da desigualdade educacional no Brasil?
- assegurar o atendimento das competências e dos objetivos de aprendizagens previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e nos currículos escolares ao longo deste ano letivo?
- salvaguardar padrões de qualidade essenciais a todos os estudantes submetidos a regimes especiais de ensino que compreendam atividades não presenciais mediadas ou não por tecnologias digitais de informação e comunicação?
- mobilizar professores e dirigentes dentro das escolas para o ordenamento de atividades pedagógicas remotas?
Em outra resolução, publicada em outubro de 2020, o CNE não recomenda que os estudantes não sejam reprovados em 2020. Sugere que se adotem anos escolares contínuos, que haja uma reprogramação do calendário escolar, aumentando-se os dias letivos e a carga horária do ano letivo de 2021 para cumprir, de modo contínuo, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento previstos também para o ano letivo de 2020, com o intuito de se cumprir, também de modo contínuo, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento previstos em cada um desses anos.
Mas, como tudo na vida, o que ainda é desconhecido é amedrontador e, consequentemente, gera insegurança. O “novo normal” imposto para o retorno às atividades presenciais parece ser muito mais preocupante e instigante do que os desafios impostos no início da pandemia, quando foi necessário, por exemplo, que:
- os professores se adequassem a novas ferramentas de trabalho, desenvolvendo as competências digitais exigidas pela educação a distância;
- os estudantes e seus e familiares se mantivessem engajados e participativos nos estudos em casa;
- se estabelecessem novas ações que protegessem os direitos de aprendizagem e garantissem a continuidade do processo de aprendizagem.
Assim sendo, fica a pergunta: para quais desafios as escolas devem se preparar a fim de poderem retornar presencialmente, após o período epidemiológico? Algumas ações são imprescindíveis, como:
- o gerenciamento das emoções, os aspectos socioemocionais, a recepção e o acolhimento dos estudantes e professores. É preciso pensar ações que possam garantir que todos tenham espaço para compartilhar como foi o período de isolamento social e que esses momentos de conversa possam ser realizados tanto em grandes grupos quanto em rodas menores ou até individuais;
- o replanejamento do calendário escolar de 2020-2021 de forma que o reordenamento do currículo possa se dar a partir do que for considerado essencial em termos de aprendizagem e de acordo com o contexto de cada rede de ensino, instituição, série ou turma. Para isso, sugere-se que cada uma analise a possibilidade de utilizar feriados, férias, contraturnos e aulas remotas para complementar a carga horária;
- a criação de mecanismos específicos e individualizados para entender o caminho traçado individualmente pelos estudantes durante o distanciamento social, as suas reais necessidades, os seus avanços e defasagens, a fim de trabalhar o nivelamento dos estudantes, como por meio de uma avaliação diagnóstica;
- a adequação entre o ensino remoto e o ensino presencial de modo a evitar aglomerações nas salas de aula e para atender os que ainda necessitarem permanecer em casa;
- a montagem de planos de comunicação condizentes e reais, entre a escola e a família, a fim de não retroceder no vínculo estabelecido entre escola/aluno/família;
- a preparação de todas as medidas de segurança e saneamento dentro da instituição.
QUAL IMPACTO EMOCIONAL QUE O NOVO NORMAL TEM CAUSADO NAS CRIANÇAS?
Com isso, estados e municípios devem se comprometer a fazer as adaptações necessárias para que as escolas cumpram com os protocolos sanitários e pedagógicos a fim de garantir que o retorno às aulas seja seguro.
Enfim, é esperado que as consequências do ano de 2020 levem um tempo para serem resolvidas nas escolas. Toda a comunidade escolar, assim como pais e estudantes precisarão estar preparados para os novos desafios e abertos a constantes readaptações, flexibilizações e replanejamentos.
Além de recuperar esse tempo de isolamento social, as escolas deverão buscar meios de continuar o ensino de maneira segura, com qualidade, bem como encontrar formas de evitar a evasão escolar. Não se pode ignorar tudo o que aconteceu em 2020. É preciso valorizar e muito o que foi aprendido nesse ano e no convívio familiar.
Por isso, um dos maiores desafios da volta às aulas presenciais é saber lidar com a emoção do primeiro dia.
Será que todos estão prontos para o recomeço?
Essa resposta pode estar nos versos da poetisa Cora Coralina, em A arte de viver bem:
“Mesmo quando tudo parece desabar,
cabe a mim decidir entre rir ou chorar,
ir ou ficar, desistir ou lutar;
porque descobri, no caminho incerto da vida,
que o mais importante é o decidir.”
* Luciane Danylczuk Prendin, professora há mais de 30 anos, coordenadora pedagógica na Tecnologia Educacional
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